Maria Marina Dias Cavalcante[1]
O “ser professora" apareceu em minha vida de forma quase natural. Filha de pai semianalfabeto e de mãe analfabeta era comum ouvir de minha mãe: eu queria tanto ter estudado, mas não tive oportunidade, pois naquele tempo as coisas eram difíceis, meu pai não compreendia o valor do estudo para os filhos, como eu entendo hoje...Nas entrelinhas de sua fala estava expresso o desejo de que gostaria que aproveitássemos a oportunidade que estávamos tendo, e nos formássemos. Cresci ouvindo sua fala. Este fato teve e tem um peso enorme em minha trajetória profissional, e como as demais crianças da cidade, onde nasci no interior do estado do Ceará enfrentei muitas dificuldades para estudar. Apesar de todos os cuidados de meus pais, os caminhos que me levaram aos bancos escolares não foram fáceis.
Comecei a estudar com uma professora leiga, com ela, me alfabetizei, fiz a primeira série primária e pude prosseguir em meus estudos. E é com a professora Pretinha como nós a chamávamos carinhosamente,
que me identifico, em muitos momentos ao longo de minha profissão. Dessa forma compreendo que a identidade docente percorre caminhos e atalhos diferenciados, e é tecida de múltiplos fios.
Entrelaçando esta ideia com a preocupação de entender como ocorre a construção da identidade docente é possível perceber a influência que os contextos sócio- histórico-culturais têm em nosso processo de construção identitária, é como se as partes fizessem parte de um todo , lembrando o princípio hologromático desenvolvido por MORIN (1996).
Reafirmo a necessidade de desmistificar a lógica linear de construção da identidade docente pautada numa formação definida a partir somente dos cursos de formação de professores, pois compreendo que essa construção vai se forjando também a partir dos tempos/espaços onde os sujeitos vivem.
As dificuldades/dilemas marcam a trajetória docente e muitas vezes levam tantos professores a desistirem do magistério. Dificuldades evidenciadas por atitudes de descaso, pelo desrespeito e pelo descompromisso dos nossos governantes. Dilemas que sugerem interrogações tais como: Por que ainda estou no magistério? Como me construo professora?
Talvez não consiga responder, mas posso tentar anunciar alguns caminhos por onde tenho passado, pois muito aprendi não só com meus colegas no cotidiano do fazer docente, mas também na sala de aula com meus alunos, com meus pais, com os professores dos cursos que tenho feito, com as histórias de cada um. É muito bom relembrar essas histórias e nelas ver a minha história, é muito bom exercitar este diálogo cheio de experiências passadas, mas refletidas no presente como se estivessem ressignificando-o. Percebo também que aprendi algo que outrora apenas cantarolava, mas que agora compreendo e sinto como no canto do poeta Gonzaguinha...Toda pessoa é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas....
Não me fiz professora, me construo professora, quotidianamente, em diferentes instâncias nas quais tenho interagido, nas diferentes interlocuções, nas múltiplas teias de relações que tenho tecido, no rico espaço da Universidade Pública. Enfim na vida. Pois assim como Nóvoa, acredito não ser possível separar o professor da pessoa do professor.
...Hoje sou professora. A construção sempre provisória de minha identidade docente, ainda há muito a construir, ainda há muito a aprender, há muita história para ser ouvida e para ser contada. Assim acredito que posso tecer novas teias de relações que possibilitem a construção de identidades, que, na diversidade possam manter a unidade MORIN (1996).
...Hoje sou professora e me orgulho de ter encontrado em minha caminhada, pessoas de coragem no magistério, que como a professora que me alfabetizou acredita na utopia e lutam para que aconteça. Utopia que segundo Rios (1999) se traduz em uma forma de conjugar o verbo esperançar no qual a esperança se apresenta como movimento . Ela é alimentada, sustentada exatamente pela a ação do homem, que explora as potencialidades do presente, começando a criar aí o futuro.
Sinto como João Guimarães Rosa... a lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com os outros acho que nem se misturam. Contar seguido, alinhavando, só mesmo sendo coisas de rasa importância (...). Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data.
BIBLIOGRAFIA
NÓVOA, Antônio. Os professores e sua formação. Porto Editora, 1992.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo. Cortez, 2000
RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1994.
[1] Professora Adjunto do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará
O “ser professora" apareceu em minha vida de forma quase natural. Filha de pai semianalfabeto e de mãe analfabeta era comum ouvir de minha mãe: eu queria tanto ter estudado, mas não tive oportunidade, pois naquele tempo as coisas eram difíceis, meu pai não compreendia o valor do estudo para os filhos, como eu entendo hoje...Nas entrelinhas de sua fala estava expresso o desejo de que gostaria que aproveitássemos a oportunidade que estávamos tendo, e nos formássemos. Cresci ouvindo sua fala. Este fato teve e tem um peso enorme em minha trajetória profissional, e como as demais crianças da cidade, onde nasci no interior do estado do Ceará enfrentei muitas dificuldades para estudar. Apesar de todos os cuidados de meus pais, os caminhos que me levaram aos bancos escolares não foram fáceis.
Comecei a estudar com uma professora leiga, com ela, me alfabetizei, fiz a primeira série primária e pude prosseguir em meus estudos. E é com a professora Pretinha como nós a chamávamos carinhosamente,
que me identifico, em muitos momentos ao longo de minha profissão. Dessa forma compreendo que a identidade docente percorre caminhos e atalhos diferenciados, e é tecida de múltiplos fios.
Entrelaçando esta ideia com a preocupação de entender como ocorre a construção da identidade docente é possível perceber a influência que os contextos sócio- histórico-culturais têm em nosso processo de construção identitária, é como se as partes fizessem parte de um todo , lembrando o princípio hologromático desenvolvido por MORIN (1996).
Reafirmo a necessidade de desmistificar a lógica linear de construção da identidade docente pautada numa formação definida a partir somente dos cursos de formação de professores, pois compreendo que essa construção vai se forjando também a partir dos tempos/espaços onde os sujeitos vivem.
As dificuldades/dilemas marcam a trajetória docente e muitas vezes levam tantos professores a desistirem do magistério. Dificuldades evidenciadas por atitudes de descaso, pelo desrespeito e pelo descompromisso dos nossos governantes. Dilemas que sugerem interrogações tais como: Por que ainda estou no magistério? Como me construo professora?
Talvez não consiga responder, mas posso tentar anunciar alguns caminhos por onde tenho passado, pois muito aprendi não só com meus colegas no cotidiano do fazer docente, mas também na sala de aula com meus alunos, com meus pais, com os professores dos cursos que tenho feito, com as histórias de cada um. É muito bom relembrar essas histórias e nelas ver a minha história, é muito bom exercitar este diálogo cheio de experiências passadas, mas refletidas no presente como se estivessem ressignificando-o. Percebo também que aprendi algo que outrora apenas cantarolava, mas que agora compreendo e sinto como no canto do poeta Gonzaguinha...Toda pessoa é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas....
Não me fiz professora, me construo professora, quotidianamente, em diferentes instâncias nas quais tenho interagido, nas diferentes interlocuções, nas múltiplas teias de relações que tenho tecido, no rico espaço da Universidade Pública. Enfim na vida. Pois assim como Nóvoa, acredito não ser possível separar o professor da pessoa do professor.
...Hoje sou professora. A construção sempre provisória de minha identidade docente, ainda há muito a construir, ainda há muito a aprender, há muita história para ser ouvida e para ser contada. Assim acredito que posso tecer novas teias de relações que possibilitem a construção de identidades, que, na diversidade possam manter a unidade MORIN (1996).
...Hoje sou professora e me orgulho de ter encontrado em minha caminhada, pessoas de coragem no magistério, que como a professora que me alfabetizou acredita na utopia e lutam para que aconteça. Utopia que segundo Rios (1999) se traduz em uma forma de conjugar o verbo esperançar no qual a esperança se apresenta como movimento . Ela é alimentada, sustentada exatamente pela a ação do homem, que explora as potencialidades do presente, começando a criar aí o futuro.
Sinto como João Guimarães Rosa... a lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com os outros acho que nem se misturam. Contar seguido, alinhavando, só mesmo sendo coisas de rasa importância (...). Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data.
BIBLIOGRAFIA
NÓVOA, Antônio. Os professores e sua formação. Porto Editora, 1992.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo. Cortez, 2000
RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1994.
[1] Professora Adjunto do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará
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